sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

Aspirina e cultura de orquídeas



lc_m_ap_barani_aspirin-vert“Alem da alegria, a coisa boa de ensinar biologia durante anos foi aprender a cada dia mais. A coisa ruim é explicar tudo agora para adultos tão explicitamente como se fossem adolescentes.
Quando ensinava, comecei o ano escolar com uma experiência laboratorial onde os alunos diluíam aspirina (uma dose para adultos de 325 mg) em água, e regavam rabanetes, aveia ou qualquer vegetal de crescimento rápido com essa solução. A experiência nunca falhava.
A diluição forte (1 parte de aspirina para 1.000 partes de água) parava o crescimento; os grupos regados com a diluição média (1/10.000) cresciam notavelmente melhor que o grupo de controle regado somente com água; e os grupos regados com a diluição fraca (1/100.000) não cresciam mais do que o grupo de controle.
Os estudantes aprenderam que a aspirina contém salicina (C13 H18 O7), encontrada na casca do salgueiro. Os Índios Nativos de América do norte mastigavam talos de salgueiro para se livrar das dores de cabeça, e posteriormente os botânicos perceberam que alguns capins e outras plantas aquáticas que cresciam nas margens dos rios entre as raízes dos salgueiros cresciam melhor e amadureciam mais depressa devido à salicina. Transforme a salicina em ácido salicílico e pronto ! surge a aspirina. Literatura recente indica que a aspirina também é agente efetivo no tratamento de algumas infecções fúngicas.
Faz um ano, armado com toda essa informação, comecei a tratar nossa coleção de orquídeas com uma dose semanal de aspirina. Percebi que podia multiplicar a boa diluição de 1/10.000 acrescentando três quartos de aspirina por galão de água (um galão, medida americana corresponde a 3,783 litros). Temos umas 2.000 orquídeas, então usei 15 aspirinas para os 20 galões do reservatório do aspersor.
Na fase de crescimento acrescentei 6 colheres de sopa de fertilizante sólido e um jato de Whisk ou Dawn. No inverno usei 3 colheres de fertilizante sólido (desculpem as reiterações do professor, mas uma aspirina completa por galão vai brecar o crescimento, e também não se deve usar este sistema se a sua água tem teor ácido. Nossa água tem normalmente um pH de 9.0 e a aspirina abaixava o nível do pH para 8.6).
As orquídeas recebiam regas ou água de chuva normalmente durante a semana.
Para fazer 12 galões de solução fertilizante, combine 9 aspirinas com 12 galões de água; para 4 galões acrescente 3 aspirinas em 4 galões de água; e para fazer somente 1 galão dilua 1 aspirina num copo de água, jogue fora 1/4 dele e então acrescente água para completar 1 galão.
Nossas plantas tiveram mais floração, maior crescimento e menos problemas de fungos desde que a aspirina se tornou parte de nosso trato cultural. A única mudança tem sido acrescentar aspirina uma vez por semana. Pode ser a redução do pH, ou quiçá a mágica que dilui o nosso sangue e para as dores e sofrimentos que também nos ajuda a cultivar melhores orquídeas.
A outra coisa que aprendi e que venho usando por vários anos provem de um projeto de ciências de um dos meus alunos. Não se aplicava a orquídeas, mas as seis ou mais variedades de plantas de jardim tratadas demonstraram que o maior aproveitamento metabólico acontece às 11 hs e era melhor aplicar o fertilizante (e o herbicida também) nesse horário.
OBS.: 1 galão norte-americano eqüivale a 3,785 litros”
Colaboração recebida via email da orquidófila
Sandra Soares, de Volta Redonda/RJ.
Com o comentário do orquidófilo e com certeza orquidólogo, Hélio R. Magaldi, esclarece que “3/4 de Aspirina (ácido acetilsalicílico da Bayer) 325 mg equivale à 243,75 mg. Isto é praticamente a metade de uma Aspirina de 500 mg (a versão adulta comercializada no Brasil). Logo, para atingir os 243,75 mg, basta fracionar um comprimido de 500 mg em dois e utilizar uma das metades em 3,785 lts (1 galão - medida americana). Estou fazendo assim: metade de uma aspirina 500 mg diluída em 4 litros.
A Aspirina 500 mg, dose para adultos no Brasil, é tida como “extra forte” nos EUA. Neste país, a concentração baixa é de 81 mg -low-dose – no Brasil é de 100 mg (infantil). Veja mais emhttp://www.wisegeek.com/what-is-the-appropriate-aspirin-dose.htm
A página http://www.plantea.com/plant-aspirin.htm traz a experiência de Martha McBumey com o uso de ácido acetilsalicílico em diferentes culturas. Em algumas (tomate e brócolis) associando à solução de água-Aspirina uma pequena dose de sabonete líquido suave para que houvesse uma melhor aderência da mistura à planta. Diz ali que ao aplicar a solução de Aspirina-água em certas sementes plantadas em solo , houve 100% de germinação, o que não teria acontecido em outra área de solo com o mesmo tipo de semente. Interessante.”
“Plantas sob estresse produzem sua própria ‘aspirina’, diz estudo
Uma equipe de pesquisadores americanos descobriu acidentalmente que algumas plantas são capazes de lançar no ar um gás de composição similar à de um dos analgésicos mais utilizados pelo ser humano, a aspirina, quando ameaçadas por perigos como estiagem, mudanças drásticas de temperatura ou pragas de insetos.
Os cientistas do Centro Nacional para a Investigação Atmosférica do Colorado concluíram que, da mesma forma que os seres humanos usam o ácido acetilsalicílico (nome científico da aspirina) para baixar a febre,as plantas lançam no ar uma substância química parecida com o analgésico para melhorar suas defesas e se recuperar de alguma lesão.
“Os cientistas dizem que quantidades significativas de substâncias químicas podem ser detectadas na atmosfera quando as plantas respondem a secas e outros perigos”, disse o repórter da BBC, Richard Hamilton.
Os especialistas destacaram em artigo na revista Biogeosciences que os agricultores poderiam se beneficiar desse fenômeno porque a presença de emissões de salicilato de metila tem potencial para dar aos fazendeiros um alerta antecipado para possíveis dificuldades em seus cultivos, permitindo que eles tomem medidas contra pragas, por exemplo.
A substância química liberada também pode ajudar as plantas a sinalizarem um possível perigo umas para as outras.
“Esta descoberta traz uma prova de que a comunicação entre plantas ocorre no nível do ecossistema, disse Alex Guenther, co-autor do estudo.
“Parece que as plantas têm a habilidade de se comunicar através da atmosfera.”
A equipe disse que descobriu a presença da substância química acidentalmente quando estava monitorando emissões de compostos orgânicos voláteis em uma plantação de nogueiras na Califórnia. (Fonte: Estadão Online)”
Colaborou Katia Maria de Niterói/RJ - ref. publicação dia 20/09/2008, no http://noticias.ambientebrasil.com.br/noticia/?id=40797
A História da Aspirina - Uma medicação antiga que continua atual.
Autor: Dr. José Carlos Carneiro Lima
Em 1757, o Mr Edmund Stone um inglês natural de Oxfordshire, provou a casca do salgueiro e ficou surpreso com o seu intenso sabor amargo.
Sua semelhança com o sabor da casca do “Peruvian” (Cinchona) - um remédio raro e muito caro utilizado para malária - chamou a atenção de Stone, levando-o à iniciar uma observação clínica cuidadosa, que durou seis anos e culminou com uma carta ao Honorável George Conde de Macclesfield Presidente da “Royal Society” relatando sua descoberta. Stone baseou-se na teoria de que muitas doenças naturais carregam com elas sua cura, ou que sua cura não está muito distante da sua causa.
O salgueiro, assim como as doenças febris, são abundantes nas regiões úmidas. Apesar de não saber, o que ele acabava de descobrir era que os salicilatos - termo geral para os derivados do acido salicílico - reduziam a febre e aliviavam as dores produzidas por uma variedade de doenças agudas que provocavam calafrios, como a malária. A casca do salgueiro (Salix alba) é adstringente porque contém grande quantidade de salicina, o glicosídeo do ácido salicílico.
Em 1833, Raffaele Piria deu ao composto o nome pelo qual é conhecido até hoje: ácido salicílico. Durante o século 19, os cientistas franceses e ingleses estavam muito à frente dos alemães no que dizia respeito ao estudo de produtos naturais porém, o “know-how” de produtos sintéticos era dominados pelos alemães. Em 1859, Hermann Kolbe e seus estudantes, na Universidade de Marburg, sintetizaram o ácido salicílico e seu sal sódico, a partir de fenol, dióxido de carbono e sódio. Em 1874, um desses estudantes, Friedrich von Heyden, fundou a primeira grande empresa dedicada à produção salicilatos sintéticos em Dresden.
Enquanto em 1870 o preço do ácido salicílico, feito a partir do salicina, era 100 Thaler por kg, em 1874 o preço do produto sintético era 10 Thaler por kg. Foi a disponibilidade de um ácido salicílico barato que possibilitou a propagação do seu uso.
A aspirina, o salicilato mais conhecido hoje, entrou nessa competição razoavelmente tarde. Sua descoberta, em 1898, deveu-se ao fato do pai de Felix Hofmann, um químico do ramo de tinturaria da divisão Bayer, ser portador de artrite e não tolerar o salicilato de sódio devido a uma irritação crônica do estômago.
Hofmann foi buscar na literatura um derivado do salicilato de sódio que fosse menos ácido e deparou-se com o ácido acetil salicílico que era também mais palatável e mais efetivo para seu pai.
Atualmente, o salicilato mais usado é o ácido acetil salicílico, mais conhecido pelo nome comercial, “Aspirin”, (”a” de acetil e “spirin” do alemão Spirsaure), registrado pela Bayer.
Em 1899, não havia indústria química no mundo capaz de competir com os cartéis alemães. Eles haviam ganhado a guerra da aspirina e podiam ditar os termos da vitória.
No início da década de 90, os americanos consumiram cerca de 80 milhões de comprimidos/dia = 59 bilhões de comprimidos/ano e gastaram em torno de 29 bilhões de dólares/ano com analgésicos, muitos dos quais continham aspirina ou substâncias assemelhadas. Mecanismo de ação:
A primeira explicação satisfatória para o mecanismo de ação da aspirina foi proposta, em 1971, por John R. Vane e colegas do
Royal College of Surgeons em Londres. Vane havia observado o fato de que muitas formas de dano tecidual (como o rubor e calor, e dos que são sinais de inflamação) eram seguidas pela liberação de prostaglandinas, um grupo de hormônios ubíquos produzidos pela oxidação enzimática do ácido aracdônico, um ácido graxo contido na membrana celular.
As prostaglandinas são liberadas quando as células são lesadas ou estimuladas por outros hormônios. Vane então, utilizou ácido aracdônico marcado radioativamente para demonstrar que a aspirina e drogas a ela relacionadas (chamadas de antiinflamatórios não esteróides = AINEs) inibiam a síntese de prostaglandinas.
Talvez o aspecto mais persuasivo da hipótese das prostaglandinas, tenha sido a explicação dos efeitos colaterais dos AINEs.
O efeito colateral mais freqüente do ácido acetilsalicílico, é a irritação e ulceração gástrica.
Tais drogas causam esta irritação porque bloqueiam a síntese das prostaglandinas necessária à mucosa gástrica para regular a superprodução de ácido e sintetizar a barreira de muco que previne sua auto digestão.
A hipótese da prostaglandina explica o efeito antitrombótico de pequenas doses de aspirina, e o efeito analgésico e antipirético de doses intermediárias. Contudo, muita coisa ainda pode vir a ser aprendida sobre a biologia destes compostos na medida que eles interagem com sistemas cruciais das células.
Indicações:
Stone observou ainda que tais compostos exibiam um amplo espectro de efeitos:
Em baixas doses = de 85mg a 325 mg/dia - a aspirina pode ser usada para tratar e prevenir ataques cardíacos e na prevenção de trombose cerebral; 500mg a 4g (2 a 8 comprimidos de aspirina) Dois a seis comprimidos/dia são eficazes para dor ou febre;
Doses mais altas reduzem o rubor e o edema das articulações em doenças como a febre reumática, a gota e a artrite reumatóide.
A aspirina e os salicilatos têm, também, muitos outros efeitos biológicos, somente alguns relacionados com seus usos clínicos.
Os salicilatos podem:
-Tratar calosidades;
-Provocar a perda de acido úrico pelos rins;
-Matar bactérias “in vitro”.
A Aspirina na Medicina:
-Inibe a coagulação sanguínea;
-Induz úlcera péptica;
-Promove retenção de fluidos pelos rins.
-Prevenção das Doença Arterial Coroanariana e
-Acidente Vascular Cerebral.
Na Biologia Celular:
-Inibição do transporte de íons através de membranas celulares;
-Ativação de células brancas;
-Alteração na produção de ATP mitocondrial.
Na Biologia Molecular
-Ativação gênica.
Na Botânica
-Indução da floração.
Garret A. Fitzgerald e John Oates da Vanderbilt University School of Medicine mostraram que a aspirina, em pequenas doses, pode reduzir o risco de coagulação prevenindo AVCs e ataques cardíacos. Nenhuma outra descoberta, advinda da hipótese de Vane, obteve maior impacto na saúde pública.
Entrevista com Dr. Gilson Feitosa - Professor titular III Disciplina de Clínica da Escola Bahiana de Medicina e Saúde Pública; Presidente SBC - 1999-2001.
1.
Qual a incidência das doenças cardiovasculares no Brasil?
R.: São responsáveis por cerca de 300 mil óbitos ao ano, esse dados são obtido através de levantamento de atestados de óbitos, isto coloca as doenças cardio-vasculares - DCV como a principal causa de óbitos no Brasil nos dias atuais e já a muito tempo desde os anos 60. Entre as doenças cardiovasculares destaca-se as doenças isquêmica do coração e as doenças cerebro-vasculares como as mais importantes, a peculiaridade no Brasil de ainda contarmos em algumas regiões com doenças ligadas a aspectos carenciais como por exemplo a doença reumática no coração e doença de chagas.
2.
Quais são seus fatores predisponentes?
R.: Os fatores predisponentes para a cardiopatia isquêmica cardiovascular são:
hipertensão arterial, tabagismo e dislipidêmias, todos estes fatores de risco concorrem para o aparecimento de aterosclerose vascular, que é a doença básica, determinando doença arterial coronariana e doença dos vasos cerebrais.
3.
Como prevení-los? Existe forma de prevenção usando medicamentos?
R.: Existem duas formas identificadas de prevenção, uma que é dita primária, que é mais abrangente e aplica-se as pessoas que tendo os fatores de risco ainda não tiveram manifestações da aterosclerose. A segunda forma é a prevenção secundária onde se aplica a pessoas que já tiveram infarto do miocárdio,
em ambas, as formas de prevenção recomenda-se mudanças do estilo de vida que resultem em abolição do tabagismo (cigarro), dietas saudáveis com redução de gorduras saturadas, controle de peso e prática regular de exercícios.
Ocasionalmente na fase primária e freqüentemente na secundária recorre-se ao uso de medicamentos tais como, antihipertensivos e hipolipemiantes.
4.
Qual a real importância da aspirina como droga preventiva das DCVs (Doenças cardiovasculares)?
R.: A aspirina tem papel comprovado na prevenção de eventos cardiovasculares, tanto em prevenção primária e principalmente na secundária. São clássicas as observações dos estudos médicos realizados nos EUA, com prevenção primária, e são numerosos os estudos de prevenção secundária que demonstram que a aspirina em doses que variam de 100 a 300 mg/dia são capazes de reduzir muitos desses eventos.

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